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domingo, 12 de fevereiro de 2012


Escolhas bem feitas



Pessoas consideradas inteligentes dizem que a felicidade é uma idiotice, que pessoas felizes não se deprimem, não têm vida interior, não questionam nada, são uns bobos alegres, enfim, que a felicidade anestesia o cérebro.

Eu acho justamente o contrário: cultivar a infelicidade é que é uma burrice. O que não falta nessa vida é gente sofrendo pelos mais diversos motivos: ganham mal, não amam, padecem de alguma doença, sei lá, cada um sabe o que lhe dói.
 

Todos trazem uns machucados de estimação, você e eu inclusive. No que me diz respeito, dedico a meus machucados um bom tempo de reflexão, mas não vou fechar a cara, entornar uma garrafa de uísque e me considerar uma grande intelectual só porque reflito sobre a miséria humana. Eu reflito sobre a miséria humana e sou muito feliz, e salve a contradição.
 

Tem que ter a felicidade de nascer numa família bacana, e a alegria de ter pais que incentivem a leitura e o esporte, ter a graça de  eles poderem pagar os estudos pra você, ter saúde. Até aí, conta-se com a providência divina. O resto não é mais da conta do destino: depende das suas escolhas. 

Os amigos que você faz, se optou por ser honesto ou ser malandro, se valoriza mais a grana do que a sua paz de espírito, se costuma correr atrás ou desistir dos seus projetos, se nas suas relações afetivas você prioriza a beleza ou as afinidades, se reconhece os momentos de dividir e de silenciar, se sabe a hora de trocar de emprego, se sai do país ou fica, se perdoa seu pai ou preserva a mágoa pro resto da vida, esse tipo de coisa.
 

A gente é a soma das nossas decisões, todo mundo sabe. Tem gente que é infeliz porque tem um câncer. E outros são infelizes porque cultivam uma preguiça existencial. Os que têm câncer talvez não tenha tido escolha. Mas os outros, sim, têm como optar. E estes só continuam infelizes se assim escolherem.

Martha Medeiros

Martha Medeiros (1961) é gaúcha da cidade de Porto Alegre onde reside desde que nasceu. Fez sua carreira profissional na área de Propaganda e Publicidade, tenho trabalhado como redatora e diretora de criação em vária agências daquela cidade. Em 1993, a literatura fez com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas escrevendo poesia

domingo, 22 de janeiro de 2012



LIDERANÇA GENUÍNA NA IGREJA HOJE
Por Henri Houwen

A liderança na igreja não é confiada a bem-sucedidos levantadores de fundos, a brilhantes estudiosos da Bíblia, a gênios administrativos ou pregadores eloqüentes (apesar destes recursos serem úteis), mas àqueles que tenham sido assolados por uma paixão consumidora por Cristo — homens e mulheres apaixonados, para quem o privilégio e o poder são triviais se comparados a conhecer e amar Jesus. Henri Nouwen reflete sobre essas qualificações para a liderança:


"Líderes cristãos não podem ser apenas pessoas que têm opinião bem formada sobre polêmicas importantes de nosso tempo. Sua liderança deve estar arraigada no relacionamento permanente e íntimo com a Palavra encarnada, Jesus. Os líderes precisam encontrar aí a fonte de suas palavras, orientações e conselhos... Lidar com questões abrasadoras contribui facilmente para o separatismo, porque, antes que o saibamos, nossa percepção pessoal é capturada pela opinião que temos sobre um determinado assunto. Mas, quando estamos firmemente enraizados numa intimidade pessoal com a fonte da vida, será possível permanecer flexível, mas não relativista, persuadido sem ser rígido, disposto a confrontar sem ser ofensivo, honrado, perdoador sem ser superficial, e testemunhas verdadeiras sem ser manipuladores."





DESEJO SANTO , ANSEIO PERMANENTE





Parece ser apenas outro longo dia de duro trabalho braçal no cansativo ritmo do tempo. Mas, repentinamente, o boi pára e começa a dar puxões teimosos. O camponês manobra o arado para ir mais fundo na terra do que costuma fazer. Ele revolve sulco após sulco até que ouve um ruído irritante de metal. O boi pára de arar a terra. O homem empurra o arado primitivo para o lado. Com as próprias mãos cava furiosamente a terra, que voa para todos os lados. Por fim, o camponês percebe uma alça e tira um grande baú do chão. Tremendo, ele puxa com força a alça do baú. Fica atordoado. Solta um grito — "Aaaaahhh" — que faz o boi piscar.
O baú pesado está cheio até a tampa de moedas e jóias, prata e ouro. Ele remexe o tesouro, deixando escorrer entre os dedos as moedas preciosas, brincos raros e diamantes cintilantes. Furtivamente, o camponês olha em volta para ver se alguém o estava observando. Satisfeito por estar sozinho, amontoa a terra sobre o baú enterrado e faz um sulco raso na superfície; com o arado, coloca uma pedra grande no local como marcador e continua arando o campo.
Ele está profundamente afetado pela esplêndida descoberta. Um único pensamento o absorve; na verdade, isso o controla de tal forma que não consegue trabalhar de dia sem se distrair, nem dormir sem se perturbar à noite. O campo precisa se tornar sua propriedade!
Como diarista, é impossível para ele se apossar do tesouro enterrado. Onde pode conseguir o dinheiro para comprar o campo? A cautela e a discrição são atiradas pela janela. Ele vende tudo o que possui. Consegue um preço justo por sua cabana e pelas poucas ovelhas que havia adquirido. Volta-se para parentes, amigos e conhecidos, e toma emprestado somas significativas. O proprietário do campo está deliciado com o preço extravagante oferecido pelo comprador e o vende ao camponês sem pensar duas vezes.
A esposa do novo proprietário está furiosa. Seus filhos estão inconsoláveis. Seus amigos o censuram. Seus vizinhos meneiam a cabeça: "Ele ficou tempo demais debaixo do sol". Entretanto, estão confusos com sua excessiva firmeza.
O camponês permanece sereno, até mesmo alegre, em face da oposição disseminada. Ele sabe ter tropeçado numa transação extraordinariamente lucrativa e se regozija ao pensar nos resultados. O tesouro, que aparentemente tinha sido enterrado no campo por segurança antes da última guerra e cujo dono não tinha sobrevivido, equivale a mais de cem vezes o preço pago. Ele quita todas as suas dívidas e constrói o equivalente a uma mansão em Malibu. O humilde camponês agora é um homem de fortuna feita, invejado por seus inimigos, parabenizado por seus amigos e assegurado pelo resto de sua vida.
O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.
Mateus 13:44

domingo, 13 de novembro de 2011






DO MUNDO VIRTUAL
 AO MUNDO ESPIRITUAL



Sou amante incondicional do Frei Betto um escritor fenomenal, entre suas obras mais importantes “Sinfonia Universal” e a “Mosca Azul” se destacam com grande excelência, esta semana recebi um Email com um artigo maravilhoso escrito por este grande homem de Deus e gostaria de compartilhá-lo com todos.

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?" Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: "Não foi à aula?" Ela respondeu: "Não, tenho aula à tarde". Comemorei: "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde". "Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..." "Que tanta coisa?", perguntei. "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: "Que pena, a Daniela não disse "tenho aula de meditação"! Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso, as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super-executivo se não consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação! Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto"? "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite"! Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa? Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega Aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais. A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções - é um problema: a cada semana que passa temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!" O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose. Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los aonde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque para fora ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse. Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping Center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas... Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s… Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".


Autor de mais de 52 livros, editados no Brasil e no exterior, Frei Betto nasceu em Belo Horizonte (MG). Estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Frade dominicano e escritor ganhou em 1982 o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, por seu livro de memórias Batismo de Sangue. Em 1986, foi eleito Intelectual do Ano pelos escritores filiados à União Brasileira de Escritores, que lhe deram o prêmio Juca Pato por sua obra “Fidel e a religião”. Seu livro "A noite em que Jesus nasceu" (Editora Vozes) ganhou o prêmio de "Melhor Obra Infanto-Juvenil" de 1998, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 2005, o júri da Câmara Brasileira do Livro premiou-o mais uma vez com o Jabuti, agora na categoria Crônicas e Contos, pela obra “Típicos Tipos – perfis literários” (Editora A Girafa). Foi coordenador da ANAMPOS (Articulação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais), participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da CMP (Central de Movimentos Populares). Prestou assessoria à Pastoral Operária do ABC (São Paulo), ao Instituto Cidadania (São Paulo) e às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Foi também consultor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Em 2003 e 2004 atuou como Assessor Especial do Presidente da República e coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. Desde 2007 é membro do Conselho Consultivo da Comissão Justiça e Paz de São Paulo. É sócio fundador do Programa Educação para Todos.

terça-feira, 1 de novembro de 2011


SOCIEDADE TRANSFORMADA

É POSSÍVEL?



Quando pensamos na possibilidade de melhorar o mundo, tudo depende de nossa visão do homem. Comecemos pelo homem sem Cristo: de que ele é capaz? Aqui, duas doutrinas bíblicas precisam ser mantidas em equilíbrio: a depravação total e a graça comum. A primeira não significa que todas as pessoas não-convertidas agem sempre de uma forma depravada, mas que o pecado afeta todas as áreas da vida humana. Refere-se à extensão do pecado, e não à sua profundidade. A graça comum, por sua vez, não é a graça salvadora que atinge aqueles que estão “em Cristo”, mas a graça de Deus à humanidade em geral, pela qual o homem continua sendo capaz de buscar a beleza, a verdade e o bem. Pensemos na relação entre a depravação total e a graça comum, distinguindo-a de duas concepções falsas. Imaginemos a vida do homem sem Cristo em todas as suas dimensões como um copo cheio de água. A primeira idéia falsa é: o homem está em estado de completa depravação moral, e dele não se pode esperar nada de bom, a não ser que se converta a Cristo. E a segunda idéia falsa é: o homem foi afetado pelo pecado em apenas algumas áreas de sua vida; outras permaneceram intocadas. Esta é a visão do homem subjacente a todas as utopias, baseadas ou na educação do indivíduo ou na transformação das estruturas.Finalmente, chegamos à visão bíblica, correta. Todas as áreas da vida do homem saem do copo afetadas tanto pela depravação total como pela graça comum; as proporções de cada elemento variam de acordo com a natureza da ação. Nenhuma realização humana está isenta dos efeitos do pecado; mesmo as ações mais altruístas têm um lado sombrio. Mas a graça comum de Deus também está presente em todos os espaços da vida, fundamentando um otimismo bíblico realista. Isso, sem levar em conta os efeitos da conversão a Cristo.

TRANSFORME O HOMEM E ELE TRANSFORMARÁ A SOCIEDADE?

A relação entre mudança estrutural e mudança individual sempre foi muito discutida. A sociedade se transforma pela transformação dos indivíduos ou pela transformação das estruturas? Na realidade, trata-se de uma pista falsa. O ser humano não existe fora das estruturas sociais (as experiências medievais em que as crianças foram mantidas totalmente sem contato humano levaram à morte precoce das “cobaias”), e as estruturas não existem sem os indivíduos que delas fazem parte. A relação entre comportamento individual e estruturas funciona nos dois sentidos. Até o marxismo, tido como exemplo clássico de proposta social que põe toda a ênfase na mudança estrutural, fala de um “homem novo” que surgirá no socialismo. A existência desse “homem novo” (não um ou dois, mas como fenômeno de massas) é precondição para a construção do comunismo, ou seja, a sociedade sem classes. Em outras palavras, para a última mudança estrutural da história, é necessária uma mudança no homem. Como produzir esse “homem novo” foi a preocupação central de todas as experiências marxistas já realizadas. Em alguns momentos os cristãos, percebendo isso, chegaram a sugerir que talvez o cristianismo tivesse uma receita interessante. Mas, nesse caso, já estamos falando de homens novos cristãos e não de convertidos ou nascidos de novo. A conversão não leva automaticamente às atitudes e ações corretas em favor das transformações sociais. A conversão é apenas o início de uma transformação progressiva rumo à renovação da imagem de Deus em nós.

Texto de Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, doutor em sociologia e professor do programa de pós-graduação em ciências sociais na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de sociologia no Calvin College, EUA. *Fragmento do capítulo 17, “De homens novos e países sérios”, do livro Religião e Política, Sim; Igreja e Estado, Não, publicado pela Editora Ultimato

sábado, 29 de outubro de 2011



VIVENDO NO MUNDO SEM SER DO MUNDO

Um cristão vivendo no mundo sem ser do mundo é um sinal de contradição às concessões com as quais se conformam muitos dentro da igreja. Esforços serão feitos para que o discípulo de Jesus seja visto e se sinta como um tolo. Porém tolos por Cristo formaram a igreja primitiva. E à medida que aquele minúsculo grupo de crentes crescia, o mundo testemunhava o poder dessa tolice.

"Essa mesma insensatez é a única esperança que temos de libertação. A maior ameaça a qualquer sistema é a existência de tolos que não acreditam na realidade última desse sistema. Arrepender-se e crer numa nova realidade — é essa a essência da conversão." Juntamo-nos à Igreja, cujo propósito é tornar visível essa realidade no mundo.

Os verdadeiros discípulos vêem o cristianismo como meio de vida tanto diante quanto longe da lente das câmeras. Obviamente a perspectiva não parecerá atraente a todos. As fileiras da membresia da igreja diminuirão. Por serem diferentes, os cristãos parecerão diferentes e agirão de forma diferente das outras pessoas. O nome de Jesus não será mais tomado casualmente nem os mistérios cristãos profanados. Os escândalos que abalaram recentemente o corpo de Cristo serão vistos em perspectiva como "uma alvorada de purificação" anunciando a luz do dia da fé vivida no Deus vivo.

A manhã da ressureição confirmou o caminho de Jesus e validou a autoridade de seu senhorio. O Mestre disse-nos para não subestimarmos o poder de nossa cultura. Nosso mundo, cheio de incrível insensatez, insistirá que somos tolos. Porém a ressureição nos convence da sabedoria de Deus e de seu poder para transformar o mundo. Nossa fé no Cristo ressurreto é o poder que vence a nós mesmos, nossa cultura e nosso mundo.

Nas palavras de Paulo em Romanos 12:2: "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus".

Trecho extraído do Livro "Assinatura de Cristo" de Brennan Manning


sexta-feira, 28 de outubro de 2011


Dietrich Bonhoeffer

uma vida em estado de Graça


Desde que comecei a ler o livro Vida em Comunhão (Editora Sinodal) de Dietrich Bonhoeffer, tenho sido grandemente impactado pela reflexão profunda deste teólogo alemão que experimentou de forma muita intensa a graça da comunhão, especialmente quando cuidou do Seminário de Pregadores da Igreja Confessante em Finkenwalde. Destaquei alguns trechos do livro que nos desafiam a valorizar o presente da vida com nossos irmãos de fé.

"Nossa comunhão consiste unicamente no que Cristo fez por nós dois. E isso não é assim apenas no início, como se, no decorrer do tempo, algo fosse acrescentado a essa comunhão, mas assim será para todo o futuro e toda a eternidade. Só tenho e terei comunhão com outra pessoa através de Jesus Cristo. Quanto mais autêntica e profunda for nossa comunhão, tanto mais tudo o resto ficará em segundo plano, com tanto mais clareza e pureza Jesus Cristo, única e exclusivamente ele, e sua obra se tornarão vivos entre nós. Temos uns aos outros apenas através de Cristo, mas através de Cristo de fato temos uns aos outros, inteiramente para toda eternidade".

"Deus odeia fantasias, pois elas tornam a pessoa orgulhosa e pretensiosa. Quem idealiza uma imagem de comunhão exige de Deus, das outras pessoas e de si mesmo que ela se torne realidade. Entra na comunhão cristã colocando exigências, estabelece uma lei própria e a partir dela julga os irmãos e até mesmo Deus ... Age como se precisasse criar primeiro a comunhão cristã, como se seu ideal fosse unir as pessoas. Tudo o que não acontece de acordo com sua vontade é considerado como fracasso. Lá onde ela vê seu ideal ser destruído, ela vê a comunhão se quebrando. Assim, primeiro ela se torna acusadora de irmãos, então de Deus e, por fim, acusadora desesperada de si mesma. Não entramos na comunhão com outros crentes colocando exigências, mas com gratidão e como agraciados, porque Deus já colocou o único fundamento de nossa comunhão, porque há muito tempo, mesmo antes de entrarmos na comunhão com outros cristãos, Deus já nos uniu com eles num só corpo em Jesus Cristo. Agradecemos a Deus pelo que fez por nós. Agradecemos a Deus por ele nos dar irmãos que que vivam sob o seu chamado, seu perdão e sua promessa. Não nos queixamos por aquilo que Deus não nos dá, mas agradecemos pelo que ele nos dá diariamente. Por acaso não basta o que nos é dado: irmãos que, em pecado e tribulação, ficam ao nosso lado sob sua bênção e graça? ... Mesmo quando pecado e desentendimento pesam sobre a comunhão, o irmão pecador não permanece sendo o irmão junto do qual estou colocado sob a palavra de Cristo? Seu pecado não se torna um motivo para renovadamente dar graças por podermos ambos viver sob o amor perdoador de Deus em Jesus Cristo?"

"Na comunhão cristã acontece o mesmo com o agradecimento nas outras áreas da vida cristã. Apenas quem agradece pelas pequenas coisas, recebe também as grandes. Nós impedimos Deus de nos presentear com as grandes dádivas espirituais que ele reserva para nós, porque não lhe agradecemos pelas dádivas cotidianas. Achamos que não devemos nos dar por satisfeitos com a pequena medida de reconhecimento espiritual, experiência, e amor que nos foi proporcionada, e que devemos sempre aspirar aos dons supremos ... Oramos pelas grandes coisas e esquecemos de agradecer pelas pequenas dádivas do dia-a-dia (que na verdade não são tão pequenas assim!). Mas como Deus pode confiar coisas grandes a quem não aceita com gratidão as pequenas coisas de sua mão?"

"Por isso, quem pode até este momento viver em comunhão com outros irmãos, que louve a graça de Deus de joelhos e reconheça: é graça, nada mais do que graça, o fato de que hoje ainda podemos viver em comunhão com irmãos cristãos"